Crónica mensal do ano 2086

Junho é o mês do meu aniversário e do da minha filha Benedita. Escolhemos o mês de Junho para nascer, porque é o melhor mês do ano. Ela ainda ponderou Julho, tinha data prevista de parto para 21, mas percebeu a tempo o erro que ia cometer.

Esta é a primeira crónica do mês e serve para assinalar e comemorar já antecipadamente os meus futuros 100 anos.

É uma crónica recreativa, de ficção e futurologia.

Pois bem, uma das minhas grandes preocupações aos 100 anos será provavelmente com a alimentação dos meus bisnetos e trisnetos. Não quero que comam tudo embalado, ou só saladas e abacate. Não quero que a comida típica portuguesa venha em covetes embalada da marca Continente ou Pingo Doce, cujo o anúncio seria qualquer coisa como “comida típica portuguesa na vossa mesa com a gama de refeições” “cozinhados da nossa bisavó”. E seria portanto, “Feijoada milenária à transmontana”, “Cozido à Canal Caveira”, ou “Toucinho(vegan) do Céu”. Isto seria um futuro triste e embalado.

Tenho medo que os meus descendentes não se reunam aos Domingos, à volta duma mesa. Que não anseiem pela comida da avó, nem nunca digam “a comida da minha mãe é a melhor do mundo”. Que para eles o normal do Natal seja comprarem comida a um chef qualquer e que nunca entrem na cozinha em dias de festa. Que confratenizar à volta duma mesa cheia de iguarias ou na cozinha, entre tachos e frigideiras, seja um tédio total.

Não vou querer que todos comam carne, porque o melhor é serem mesmo todos vegan e vivam da sua horta sustentável. Quero só que experimentem e conheçam a culinária portuguesa, para perceberen que é a melhor do mundo. Acima de tudo quero que disfrutem da culinária, seja ela qual for e se divertiam. Que sejam felizes a cheirar a refogado, ou com as mãos a cheirar a peixe, ou a seitan.

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